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"Roubei" a Renoir o título do seu grande filme, para abordar um tema que surge sempre em cada final de período.
Neste momento milhares de encarregados de educação estão a receber convocatórias para irem às escolas receber as avaliações dos seus educandos. Infelizmente é apenas isso: receber.
Os que estão iludidos que poderão recolher outro tipo de informação mais pormenorizada desenganem-se. Estão a ser convocados para irem receber um papel.
O período de uma hora marcado para os atender é exactamente para isso que remete.
Há duas hipóteses:
a) o Director de turma recebe todos em conjunto, dá algumas informações banais, não podendo nem devendo individualizar, e depois entrega o impresso com as classificações.
b) O director de turma recebe individualmente e atribui 2 minutos a cada encarregado de educação, pois uma hora não permite melhor divisão para receber mais de 20 pessoas.
Se estivermos perante um Director de Turma com vontade de informar realmente, e transformar uma hora de recepção em duas ou três, o que em muitos casos sucede, está-se perante um desrespeito perante muito encarregados de educação, trabalhadores, que passarão imenso tempo esperando que chegue a sua vez.
Estas reuniões de uma hora são na verdade um dos maiores desperdícios de produtividade para o país. Imensos trabalhadores abandonarão os seus postos de trabalho, para, na maior parte dos casos, não ficarem a saber mais, do que saberiam se a comunicação lhes chegasse sob outra forma que não fosse a presencial.
A maior parte destas reuniões não passam de um requintado acto hipócrita em que se finge cumprir a lei: talvez a sua letra mas não o seu espírito.
Aproximam-se os exames. Trata-se sempre de uma época de alguma tensão para os estudantes.
Pela primeira vez, este ano, dei-me conta da atitude de alguns estudantes. Não se trata da maioria, mas apesar de tudo, já representam uma parte com algum significado.
Esses estudantes mostram-se indignados com as datas em que ocorre a 2ª fase. Argumentam que já se encontram de férias. Alguns já “abalaram” para outros locais, não estão disponíveis para estudar e muito menos para se deslocarem à sua residência a fim de estarem presentes à data em que se realiza a prova.
Aguardam com ansiedade que alguém lhe veja as classificações da 1ª fase, deixam uma folha de inscrição assinada para o caso de reprovarem e terem que comparecer na 2ª fase, e depois no dia certo, lá farão o sacrifício de aparecerem.
Colocarem a possibilidade de adiarem um dos exames da 1ª para a 2ª fase, no caso em que os exames ocorrem em datas muito próximas, está fora de questão, mesmo que, como acontece no 11º ano, as matérias sujeitas a exame sejam as de dois anos lectivos.
Acontece ainda que alguns desses alunos nem sequer faziam ideia, e alguns ainda não fazem, de quais são as datas dos exames na 2ª fase.
Tudo isto mostra a atitude perante a escola, e os esforço a que ela obriga, por parte dos alunos e das suas famílias. Não culpo só os alunos, alguns deles sem a maturidade suficiente para analisarem a sua atitude, mas culpo os seus Encarregados de Educação. Revelam um total desinteresse pela qualidade do trabalho dos seus educandos. Mais importante que estudar para os exames ou fazer o “sacrifício” de passar o mês de Julho a estudar, torna-se relevante propiciar umas “boas férias”. Para eles os exames já se desenrolam em período de férias. Não conseguem alcançar que as férias começam quando terminam os exames. Isto revela não a falta de responsabilidade desses Encarregados de Educação, mas sim a sua irresponsabilidade, e traduz uma “certa cultura” patente em muitos sectores da nossa sociedade.
Todos os dias, depois das oito e trinta, cumpro um dos meus deveres de encarregado de educação entregando uma criança no infantário.
No mesmo edifício funciona o 1º ciclo do ensino básico, que inicia as suas aulas às oito horas.
Quotidianamente observo alunos a chegarem com mais de meia hora de atraso à escola, saindo dos automóveis dos seus pais e encaminhando-se muito calmamente para as salas. Muitos deles são repetentes nessas situações.
É lamentável a atitude destes encarregados de educação ao incutirem estes comportamentos nos seus filhos. Entre muitos aspectos negativos que poderiam ser enunciados, apenas quero referir dois: revelam um total desrespeito pela Escola e incentivam a desresponsabilização, mostrando que as regras não são para cumprir, e que não existem consequências quando não são cumpridas. De nada vale a escola tentar educar, quando o exemplo de deseducação vem dos próprios encarregados de educação.
Não sei o que a Escola pode fazer nestas situações, mas provavelmente nada, a não ser “implorar” repetidas vezes aos encarregados de educação que façam chegar os seus filhos a horas à escola.