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Continuam os argumentos, vindos do sector da edição, sobre a desactualização dos manuais escolares durante o período de seis anos.
Parece-me que este argumento é, no mínimo, absurdo. Bastaria ir aos actuais manuais e contabilizar os conteúdos que resultem de alterações ao conhecimento estabelecido que tenham surgido recentemente.
Há alguma mudança do conhecimento científico que tenha surgido nos últimos seis anos, com consequência no conteúdo dos manuais?
Tenho dúvidas que exista, mas, se tal suceder, como caso de Plutão, não é nada que o professor não possa resolver na aula com a maior das facilidades.
Está a terminar o período de selecção de manuais escolares. A grelha de avaliação dos manuais pressupõe uma análise qualitativa e comparativa dos diferentes livros. Não me considero capaz de dar um suficiente a um livro e aceitar um bom dado por outro colega a um outro livro que eu não vi. A grelha é demasiado subjectiva, com alguns parâmetros que eu não sei muito bem o que significam, para dar a minha opinião de forma consciente sem analisar todos os livros. O problema é que no 10 º ano há 15 livros para analisar. A minha escola vai reiniciar o 7º ano no próximo ano, e lá está mais uma alta coluna de manuais à espera de análise, e … apesar de no próximo ano não haver ainda 8º ano na escola, fomos informados que também é necessário adoptar manual para esse ano. Felizmente que a maior parte das editoras não sabe e são poucos os manuais que foram recebidos para análise.
Considerando que nas últimas semanas foi preciso elaborar exames a nível de escola, e realizar e corrigir os últimos testes de avaliação, é evidente que pouco tempo restou para fazer a análise impossível.
Escolhe-se o melhor manual? Analisam-se todos com cuidado? É óbvio que não. Mas ainda bem! Assim sempre posso durante os próximos seis anos “rogar pragas” a “quem escolheu este manual”.
Portugal sempre foi um país de romarias. De norte a sul existem centenas, talvez milhares. Em honra de um santo ou santa movem-se as massas, implorando por uma graça divina em que o santo possa advogar. A missa e o farnel bem comido e bem bebido faziam parte, e ainda fazem em muitos locais, desta tradição bem portuguesa.
Temos agora, entre os meados de Abril e os meados de Maio, as novas romarias, onde o romeiro é sempre satisfeito. Basta ir e ceder aos caprichos do santo.
Correm os devotos aos hotéis e centros de conferências em busca da dádiva. À hora marcada comparecem em magotes, assistindo a sessões de marketing, como os romeiros faziam à missa da romaria. Em vez do padre a ler o missal e a perorar no sermão há um autor a projectar um “power-point”. O piquenique campestre é substituído por um “bufet” onde não falta a comida e a bebida. No fim os romeiros regressam a casa felizes com a graça recebida: livros, dvd’s, acetatos e tudo o que mais o benemérito dador queira ofertar, o que nem sempre acontece aos peregrinos tradicionais, a quem o santo nem sempre atende.
Já referi neste blog o caos em que está transformado o 3º ciclo do ensino básico, conduzido por umas vagas Competências Essenciais nas diferentes disciplinas, que deixam nas mãos das editoras a construção de um programa efectivo. Cada uma faz o que quer e lhe apetece.
Quando começamos a viver esta situação do outro lado, não o do profissional da educação, mas o de encarregado de educação que tenta acompanhar os filhos, ainda mais se nota o absurdo e o caricato das situações.
Para ajudar ao estudo, comprei alguns livros de exercícios de outros manuais que não os adoptados na escola da minha filha.
Muitas vezes parece que os manuais não são do mesmo país. Há assuntos que são abordados no manual B que não são abordados no A que aborda outros que não o são no B. E não me refiro à contextualização dos temas, (a nova moda pedagógica), mas sim aos conteúdos referentes a cada disciplina.
A sequência dos temas é a mais diversa possível, não facilitando o estudo dos alunos e podendo destruir o percurso escolar de quem tenha que ser transferido de escola.
Na disciplina de Ciências Naturais alguns manuais fazem um estudo exaustivo da célula, indicando a forma como é constituída e a função de cada um dos seus componentes, outros manuais limitam-se a dizer que os seres vivos são constituídos por células. È para isto que servem as Competências Essenciais.
Outra questão é a total descoordenação entre as várias disciplinas. Não se entende como é que os “especialistas” culpados pela existência deste monstro não se apercebem das disformidades criadas.
Ao nível do sétimo ano colocam-se os alunos a resolver equações, na disciplina de Ciências Físico-Químicas, em que é necessário determinar uma incógnita colocada no denominador ou no numerador duma fracção, quando na disciplina de matemática essa matéria ainda não está em linha de vista.
Claro que não sabendo resolver a equação os alunos seguem outro caminho: decoram três fórmulas perfeitamente equivalentes.
De acordo com as informações que o Ministério da Educação vai deixando sair para o exterior, sabe-se que estão a ser pensadas mudanças, pelo menos para as disciplinas de matemática e de português. Não chega! Vai ser preciso mudar muito mais, começando por definir aquilo que os alunos devem saber.
Foi suspensa a adopção dos manuais de português para o 8º ano. Parece-me ser mais uma medida em que não se percebem muito bem as causas.
Uma das razões seria a análise que está a ser feita à TLBS. Mas TLEBS não é suspensa.
Então os alunos vão dar TLEBS no próximo ano tendo nos manuais a terminologia anterior?
Podem argumentar que vai ser suspensa. Mas então nesse caso porque não o é já? Evitava-se o desperdício de meio ano lectivo para os alunos do 7º ano a aprenderem termos que não interessam.
Parece-me uma medida embrulhada e muito mal explicada, a juntar a muitas outras mais.
Pretendi encontrar o programa de Ciências Fisico-Químicas para o 7º ano de escolaridade.
Depois de bastante tempo a clicar em ligações do sítio do Ministério da Educação, e de outros sítios onde é possível ler os diferentes programas, apenas encontrei dois documentos relacionados com esta disciplina, que forma uma área curricular disciplinar juntamente com as Ciências Naturais.
Os documentos designam-se por Currículo Nacional-Competências Essenciais e Programa/Orientações curriculares.
Não se consegue ler em qualquer dos documentos, embora se fique com uma ideia da globalidade do programa, aquilo que os alunos deverão aprender em cada ano.
Será que é segredo de estado?
Para saber o que deveria ser dado no 7º ano utilizei outro truque: pesquisei em sítios de editoras e consegui ler o índice de alguns manuais.
Não sendo professor do ensino básico, fiquei com algumas dúvidas.
Os professores têm que consultar os manuais adoptados para saberem que matéria devem leccionar?
São os autores dos manuais que decidem a matéria a leccionar em cada ano?
Pode cada escola, ou professor, leccionar os conteúdos que lhe aprouver em cada ano?
Se um aluno tiver que mudar de escola, e isso é cada vez mais frequente devido à volatilidade dos empregos dos encarregados de educação, sujeita-se a não ter acesso a todos os conteúdos?
Para terminar fica só mais uma pergunta.
Como é possível que isto continue assim?
Li e ouvi em vários orgãos de comunicação social, Vasco Teixeira, da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, APEL, declarar-se contra a adopção de manuais escolares por seis anos. A sua argumentação é ridícula. Apoiar-se na recente desclassificação de Plutão, que deixou de pertencer à família dos planetas, ou na variação do preço do petróleo para defender períodos mais curtos para a vigência dos manuais, mostram falta de argumentação credível.
Qualquer pequena alteração científica ou de outro campo pode ser perfeitamente analisada nas aulas pelo professor, não sendo necessário alterar o manual. Aliás, quando Vasco Teixeira refere a necessidade de no próximo ano se produzirem adendas ou outro tipo de rectificações aos manuais por causa de Plutão, parece revelar uma atitude de responsabilidade por parte dos editores que não se verifica na prática.
Sempre me passaram pelas mãos, e estão em vigor neste momento, manuais com exercícios errados, tabelas erradas, e outro tipo de deficiências, algumas até no aspecto científico, que as sucessivas edições anuais não alteram. Os erros repetem-se sem que seja feita a correcção. Agora querem ir a correr rectificar o número de planetas do sistema solar?
Por favor, não gozem comigo!
Esta notícia, acerca da recusa de algumas livrarias venderem manuais isolados, sugere-me uma questão.
Se o Estado permite que as escolas obriguem os alunos a comprar os manuais, correndo o aluno o risco reprovação por faltas quando não o adquire, por que razão não obriga as livrarias a vender os manuais quando os alunos os querem comprar?
Lê-se aqui que o preço dos manuais escolares vai ser congelado até 2007.
Num dos parágrafos lê-se:
"O preço dos manuais da escolaridade obrigatória vai manter-se congelado até 2007, prevendo-se apenas o ajuste da inflação, que no próximo ano deverá rondar os 2,6 por cento."
É um congelamento,... mas os preços sobem, de acordo com a inflação.
Tenho pena de não ter tido o meu salário congelado . Trocava o congelamento pelos aumentos.