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No site do programa anunciado pelo governo para facilitar a aquisição de computadores por professores e alunos, é possível fazer a inscrição para adquirir um destes aparelhos.
O problema é a pobreza de informação e a contradição com o discurso de José Sócrates na Assembleia da Republica.O discurso pode ser consultado aqui.
José Sócrates afirmou em relação aos alunos:
“No terceiro escalão estarão os restantes alunos. Esses terão acesso a um computador portátil, pelo valor de 150 euros, e terão acesso à Internet em banda larga, pagando menos 5 euros por mês do que os preços oferecidos no mercado” No terceiro escalão estarão os restantes alunos. Esses terão acesso a um computador portátil, pelo valor de 150 euros, e terão acesso à Internet em banda larga, pagando menos 5 euros por mês do que os preços oferecidos no mercado”
No que se refere aos professores disse Sócrates: “Todos os professores do Ensino Básico e Secundário terão acesso a um computador portátil, com um pagamento inicial de 150 euros. Estes professores terão também acesso à Internet em banda larga, com uma mensalidade que o Estado garante que será 5 euros inferior aos preços praticados no mercado”
Vê-se que as condições de acesso para professores e aluno são distintas. Uns pagam só 150 € enquanto os outros têm esse valor para o pagamento inicial.
Quando se consulta o http://www.eescola.net./. lê-se o mesmo texto para estes alunos e para os professores.
“ O pacote inclui um computador portátil com acesso internet. Banda larga (móvel ou fixa). Computador: 150 euros( + mensalidade = ofertas disponíveis)”
Mais uma vez não “se conta tudo” quando se discursa. Existe uma óbvia contradição entre o publicitado e o concretizado (a não ser que se trate de um erro do site).
Também é incompreensível que não se indique quais são as mensalidades. Um professor inscreve-se para comprar algo que não sabe quanto lhe custará? Será que o preço é reduzido em relação ao mercado ou fica igual? Não é dito, e seria importante que esse pormenor fosse esclarecido.
Também não entendo o que pode significar o “= ofertas disponíveis”. Afinal segundo José Sócrates “Todos os professores do Ensino Básico e Secundário terão acesso a um computador portátil, com um pagamento inicial de 150 euros”.
São todos ou não são?
Uma iniciativa que até é positiva, pelo menos na possibilidade de muitos alunos adquirirem um computador portátil, acaba por vir enviesada por mal-entendidos, contradições e ocultações.
Esta medida deve também merecer algum cuidado por parte dos responsáveis das escolas, para que não surja a tentação de alguns professores tornarem o PC portátil obrigatório.
Embora os alunos “oficialmente” mais carenciados tenham o PC gratuito, a verdade é que a declaração de IRS está longe de ser um bom indicador. Há alunos que não sendo declarados com carência económica poderão ter alguma dificuldade em adquirir um portátil, até porque por vezes já têm um PC fixo, e, estes alunos, se tiverem Matemática ou Física e Química A, também já têm que adquirir uma calculadora gráfica, cujo preço de mercado rondará os mesmos 150 euros.
Par terminar queria deixar mais uma alerta.
Embora esta estratégia possa ser boa na perspectiva de levar o computador para casas onde ele ainda não existe, espero que não venha a ser associada, mais tarde, aos resultados escolares destes alunos. O problema do insucesso na escola não se resolve com distribuição de computadores aos alunos.
Venham então os prometidos computadores e os esclarecimentos e informações que faltam.
Não quero parecer pessimista, mas, conhecendo a realidade, achei estranhos estes números.
Fui pesquisar no documento original.
Verifiquei que a minha apreensão tinha algum sentido. Os valores não foram obtidos por análise daquilo que os inquiridos sabem fazer, mas daquilo que eles dizem saber fazer, o que, não conhecendo o que se passa nos outros países, me deixa sérias dúvidas sobre a semelhança dos resultados do inquérito com a situação real.
Ainda mais dúvidas tenho, quando leio que para ter conhecimentos de alto nível, o utilizador terá que saber realizar 5 das seguintes 6 tarefas indicadas:
1) Copiar ou mover um ficheiro ou uma pasta
2) Usar as ferramentas copiar e colar para duplicar ou transferir informação entre documentos
3 ) Usar as operações matemáticas básicas numa folha de cálculo.
4) Comprimir ficheiros
5) Ligar e instalar periféricos tais como impressora ou modem.
6) Escrever um programa informático usando linguagem especializada.
Quem é que conhecendo a realidade escolar, acha que 49% dos jovens entre os 16 e os 24 anos sabe fazer 5 destas 6 operações?
A diferença está entre o "diz que sabe fazer" e o "saber fazer".
Estes números, do meu ponto de vista, não têm validade.
Experimentassem perguntar aos jovens se eles saberiam responder às questões que normalmente são colocadas nos testes PISA. Se saberiam resolver problemas de aplicação dos seus conhecimentos escolares a situações reais? Será que muitos não diriam que sabiam fazer? O problema é quando têm que fazer, e os resultados estão à vista.
Qualquer professor sabe que se quer assegurar-se de que um aluno sabe fazer a tarefa X ou Y, não lhe pergunta se ele a sabe fazer. Manda o aluno executá-la.
Existe uma tendencia para " dizer que somos", para "dizer que fazemos".
Tudo se torna diferente quando é preciso "ser", ou quando é preciso "fazer".