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Há uma anedota que já tem alguns anos sobre a forma como ao ensino da matemática foi evoluindo. Há diferentes versões, embora apenas em questão de pormenor, e para quem não conhece, apesar de ela circular via e-mail, o texto é este.
ENSINO DOS ANOS 40/50
Um camponês vendeu um saco de batatas por 100$00. As suas despesas de produção foram iguais a 4/5 do preço de venda. Qual foi o seu lucro?
ENSINO TRADICIONAL - ANOS 60
Um camponês vendeu um saco de batatas por 100$00. As suas despesas de produção foram iguais a 4/5 do preço de venda, ou seja, foram de 80$00. Qual foi o seu lucro?
ENSINO MODERNO - ANOS 80
Um camponês troca um conjunto B de batatas por um conjunto M de moedas. O ardinal do conjunto M é de 100 e cada elemento de M vale 1$00. Desenha o diagrama de Venn do conjunto M com 100 pontos que representam os elementos desse conjunto. O conjunto C dos custos de produção tem menos 20 elementos do que o conjunto M.
Representa C como sub-conjunto de M e escreve a vermelho o cardinal do conjunto L do lucro.
ENSINO RENOVADO - 1990
Um agricultor vendeu um saco de batatas por 100$00. Os custos de produção elevam-se a 80$00 e o lucro é de 20$00.
Trabalho a realizar: Sublinha a palavra “batatas" e discute-a com o colega de carteira.
ENSINO REFORMADO PARA 2008
Um kampunes reçebeu um çubssídio de 50 euros para purdusir bué de çacos de batatas o qual vendeo por 100 euros e gastou 80 euros.
Analiza o texto do iserçício, converte euros em escudos e em ceguida dis o que penças desta maneira de henriquesser.
Não há quem não sorria perante a caricatura que exagera a realidade.
Exagera?
Num livro de matemática do 7º ano, no capítulo sobre estatística, está um exercício que consta de um inquérito em que os inquiridos teriam que responder se visitaram o castelo de Guimarães 0 vezes, 1 vez ou mais do que uma vez.
Há duas alíneas iniciais referentes a grandezas estatísticas e depois uma terceira alínea:
“ As pessoas inquiridas seriam dos Açores?
Escreve uma pequena composição onde respondas a esta pergunta e justifiques o teu raciocínio”
Num outro manual, também do 7º ano, há um exercício com um histograma, em que se pode analisar o tempo que um determinado conjunto de alunos demorou a resolver um problema.
As duas primeiras alíneas referem-se à leitura de grandezas estatísticas a partir do gráfico. Seguem-se as seguintes alíneas:
1- “ O Pedro levou 5 minutos a responder ao teste. Escreve um pequeno comentário acerca da capacidade evidenciada pelo Pedro na resolução deste exercício.”
2- “ A Ana levou 13 minutos a resolver o exercício. Escreve um pequeno texto dirigido à Ana.”
São dois manuais adoptados em inúmeras escolas.
Não cometo a injustiça de avaliar os manuais por estes exercícios, até porque são apenas dois exercícios no meio de dezenas de outros de matemática.
O que se pretende aqui evidenciar é que a situação caricaturada na anedota deixou de ser caricatura. Já começa a ser a realidade.
Ontem estive a ler o livro de Nuno Crato, “O eduquês em discurso directo”. Genericamente concordo com o que o autor expõe, fundamentado em dois motivos:
a) Como docente, sinto-me afogado em contextualizações, tendo a noção que sobre determinados conteúdos programáticos os alunos não aprenderam nada e eu não ensinei nada, porque não sabia aquilo que os alunos teriam de aprender. Essa sensação tive-a com enorme intensidade o ano passado, quando leccionei o 10º ano do novo programa de Física e Química A. Este ano, leccionando o 11º ano, talvez esteja um pouco mais “descontextualizado” e não me sinto tão inútil.
b) Possuo em caso um típico produto do construtivismo no ensino da matemática no 1º ciclo. É uma vítima, como tantos milhares de outras por este país, e que talvez venham a representar uma geração perdida para a matemática.