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Foi aprovado em Conselho de Ministros o novo regime jurídico da habilitação profissional para a docência.
Trata-se de uma enorme machadada na qualidade do ensino. Não é possível a alguém ter capacidade de dominar os conteúdos científicos de todas as áreas do 2º ciclo e ainda poder ser professor do 1º ciclo.
Se neste momento já eram visíveis as dificuldades de alguns docentes no 1º ciclo, em abordarem de forma segura os vários conteúdos, sendo mais notável o que se passa com o ensino da matemática e das ciências, a aplicação deste novo diploma vai ser a generalização da ignorância
Quando se lê no comunicado oficial do Conselho de Ministros que,
“esta mudança demonstra o esforço de elevação do nível de qualificação do corpo docente, com vista a contribuir para a qualidade da sua preparação e para a valorização do seu estatuto socioprofissional"
fica-se perplexo.
Ou pensam que somos parvos, ou querem fazer de nós parvos, ou os parvos são outros, embora não tenham consciência disso.
Só quem olha “de cima”, quem não frequenta o dia a dia das escolas, quem não vê o que os filhos vivem nas salas de aula, pode achar que se vai melhorar a qualidade do ensino com esta polivalência.
Esta legislação é o resultado da conjuntura económica. Se um professor puder deslocar-se nos diferentes níveis, permitindo a sua deslocação para o nível e área disciplinar para onde existir falta de docentes, poupa-se dinheiro.
Não existe, como é óbvio, qualquer preocupação com a qualidade do ensino que irá degradar-se. Apenas se arranjou um meio de diminuir os custos. As consequências não interessam
Se a crise económica se mantiver não tenho dúvidas que esta situação irá ser alargada, com as devidas adaptações, aos outros níveis de ensino e não tardará muito a ver-se um professor capaz de leccionar em simultâneo inglês, história, matemática e programação de computadores.
Continua a efectuar-se o “fecho” da margem leste do país.
Não tenho grandes dúvidas que os critérios irão sendo cada vez mais abrangentes. Começou com 10 alunos, já vai em 20 e o número continuará a elevar-se.
Se para escolas com meia dúzia de alunos se poderiam encontrar argumentos de âmbito pedagógico e de socialização das crianças que seriam aceitáveis, quando o número de alunos cresce, esses argumentos deixam de fazer sentido.
Gostaria que o senhor secretário de estado, Valter Lemos, me demonstrasse que um aluno de 6 anos que sai de manhã cedo de casa voltando ao fim da tarde, tem melhores condições para ter sucesso do que um outro que fica numa escola mais próxima de casa e que passa menos horas em ambiente escolar. Se ele me puder demonstrar inequivocamente que tem razão eu mudo de opinião.
Nos critérios para encerrar as escolas há um sobre o qual a informação prestada é nula.
Como é que é avaliado o insucesso de uma escola?
Pelo último ano lectivo? Pelo presente ano lectivo? Por uma média dos últimos anos? Considerando que os intervenientes no processo, alunos e professores, mudam quase todos os anos, é preciso uma grande amostragem para se poder tirar qualquer conclusão credível.
Os alunos que vão mudar de escola por terem maior insucesso que a média nacional, vão ter o seu resultados monitorizados para ver se a opção tomada foi correcta? É que não basta apresentar os números do sucesso da nova escola, onde obviamente, se ela já tinha números de sucesso mais elevados, continuará com valores acima da média. É necessário analisar os alunos que foram mudadas e comparar as suas taxas de sucesso com as que tinha antes. Isso irá ser feito?
Aliás, gostaria de perguntar se isso está a ser feito em relação aos que já foram “expatriados” este ano lectivo? Tenho dúvidas que isso esteja a acontecer. No final do ano lectivo apenas irá surgir o milagroso número do sucesso na nova escola. Não haverá informação sobre quais sãos as franjas que puxam os números médios para baixo.
Há por vezes motivos pedagógicos para encerramento de escolas, mas muitas das vezes apenas se pretende gastar menos dinheiro. Quando a política de um país apenas se rege pela poupança, sem perceber que os gastos que por vezes parecem inúteis, têm outros efeitos positivos, não estamos a ser governados por políticos mas por máquinas de calcular.
A revista Time todos os anos costuma eleger a “personalidade do ano”, que umas vezes o é pelas boas e outras vezes pelas más razões. Este ano foi eleito o anónimo utilizador de Internet. Aquele que alimenta a rede com conteúdos, se serve dela para contactos sociais e a utiliza como fonte de informação.
Se há profissionais que se deveriam rever nesse “You” promovido pela Time a personalidade do ano, seriam os professores. Infelizmente nem sempre assim sucede. Os professores são, ou deveriam ser, profissionais com competências para poderem assimilar a inovação tecnológica, para se servirem dela e para fomentarem o seu uso crítico entre os pares e nos alunos. Embora nos últimos dois ou três anos tenha notado a mudança de atitude em muitos profissionais, outros há que preferem permanecer no século XX apesar de estarmos em 2006.
Mas a culpa não pode ser atribuída a cada professor individualmente. Os órgãos de gestão das escolas são os principais responsáveis por esta situação.
As escolas funcionam em termos de organização e de transmissão da informação interna como funcionaram nos últimos 50 anos, com resmas de fotocópias inúteis, com reuniões sem sentido, com papeis que ninguém lê afixados pelos quadros de cortiça, e com as distorções e perdas que ocorrem na informação quando ela tem que ser transferida entre diversos patamares funcionais, isto quando é transmitida.
A desculpa que é preciso sensibilizar os professores já deu o que tinha a dar. Já são muitos anos de sensibilização. Quem quis, ou aceitou ser sensibilizado, já o foi. Agora é necessário impor. É necessário assumir que se quer uma escola gerida com mais eficácia.
A desculpa que não existem condições também não é válida na maior parte das situações. Se estivermos à espera das condições ideais, essas nunca existirão. Na maior parte das escolas, as condições mínimas já existem. Basta a vontade de quem gere e a eficaz gestão dos recursos humanos e materiais.
Nas escolas, em especial nas secundárias, (neste momento também começa a surgir nas básicas), existe uma massa crítica de professores com capacidade para colocar as escolas a funcionar de outra forma, mais leve e mais eficaz. Só falta a vontade de quem pode mandar.
Os órgãos de gestão têm autonomia para fazerem uma mais eficaz gestão dos recursos humanos. Por que razão professores, que seriam muito mais úteis na gestão e manutenção das redes informáticas, terão que dar aulas de substituição, fazer vigilâncias de exames, etc?
Os professores do grupo de informática, por este ser recente, não têm, na sua maioria, redução da componente lectiva, mas, mais uma vez, entra aí o querer, a vontade e a definição de prioridades dos órgãos de gestão em canalizarem para actividades da gestão e manutenção das redes, algumas horas do crédito da escola. Há que definir prioridades.
Há escolas que têm montadas óptimas plataformas das quais não é tirada o devido proveito, ( e outras que não tiram proveito nenhum). É preciso dar o passo em frente mudar a forma como a informação circula nas escolas e institucionalizar novos comportamentos.
É na definição de prioridades em termo de gestão que se decide em que século se pretende que cada escola fique.
É preciso dar o salto para o século XXI.
"Roubei" a Renoir o título do seu grande filme, para abordar um tema que surge sempre em cada final de período.
Neste momento milhares de encarregados de educação estão a receber convocatórias para irem às escolas receber as avaliações dos seus educandos. Infelizmente é apenas isso: receber.
Os que estão iludidos que poderão recolher outro tipo de informação mais pormenorizada desenganem-se. Estão a ser convocados para irem receber um papel.
O período de uma hora marcado para os atender é exactamente para isso que remete.
Há duas hipóteses:
a) o Director de turma recebe todos em conjunto, dá algumas informações banais, não podendo nem devendo individualizar, e depois entrega o impresso com as classificações.
b) O director de turma recebe individualmente e atribui 2 minutos a cada encarregado de educação, pois uma hora não permite melhor divisão para receber mais de 20 pessoas.
Se estivermos perante um Director de Turma com vontade de informar realmente, e transformar uma hora de recepção em duas ou três, o que em muitos casos sucede, está-se perante um desrespeito perante muito encarregados de educação, trabalhadores, que passarão imenso tempo esperando que chegue a sua vez.
Estas reuniões de uma hora são na verdade um dos maiores desperdícios de produtividade para o país. Imensos trabalhadores abandonarão os seus postos de trabalho, para, na maior parte dos casos, não ficarem a saber mais, do que saberiam se a comunicação lhes chegasse sob outra forma que não fosse a presencial.
A maior parte destas reuniões não passam de um requintado acto hipócrita em que se finge cumprir a lei: talvez a sua letra mas não o seu espírito.
Ontem e hoje tem sido feita grande publicidade a um estudo feito por um investigador do ISCTE, que concluiu que a escola segrega em vez de tentar esbater as diferenças sociais e económicas.
O meu espanto vem do facto de ser necessário gastar dinheiro para demonstar aquilo que está à vista.
Há escolas elitistas?
Claro que há. Quer sejam públicas, quer privadas financiadas com os dinheiros públicos. Há sempre modo de contornar as regras que impedem essa selecção. Os Encarregados de Educação pressionam e as escolas cedem.
Há turmas escolhidas?
Trata-se de uma situação que raramente é assumida, mas não é por acaso que as turmas com as primeiras letras do alfabeto são melhores.
Gostaria de ver esta situação a ser mudada, mas todas as medidas tomadas recentemente, e outras que se anunciam, irão agravar mais ainda esta situação: rankings de escolas, avaliação de professores e financiamento de escolas dependentes de classificação dos alunos só contribuirão para piorar algo que já é mau.
Segundo esta notícia pretende-se que exista ensino experimental das ciências no ensino básico. Apesar de a notícia generalizar, presumo que se referirá ao 1º ciclo, visto que nos outros ciclos já existe de forma "mais ou menos obrigatória".
A ideia é excelente, veremos como se concretiza.
A extinção de algumas escolas com a concentração dos alunos em estabelecimentos com maior dimensão poderá facilitar o equipamento dos espaços. Não será necessário material muito sofisticado nem muito pesado, pelo que nesse aspecto, para cada escola a despesa não será muito grande. A questão está em que multiplicar um valor, mesmo que baixo, por centenas de escolas que não têm nada e terão que comprar tudo, acabará por fazer com que se atinjam valores muito elevados. Veremos quais irão ser as prioridades orçamentais.
Outro aspecto a considerar está na formação dos professores, não só na componente experimental, mas em ciência em termos gerais. Muito terá que ser melhorado. Será necessário "começar ontem", e só daqui a alguns anos se poderão começar a ver os resultados. Não acredito em formação feita "à pressão", pois tão importante como saber umas "experiências engraçadas" para mostrar às crianças, è saber explicá-las e ter a percepção da sua importância e da sua explicação correcta dos fenómenos observados em termos de formação científica dos alunos.
Um terceiro factor a considerar é a forma como esta actividades experimentais serão introduzidas no curriculo. Corre-se o risco de suceder como no ensino secundário em que se ficou com um programa extremamente extenso e com algumas actividades desenquadradas dos contéudos. Isto faz com que os alunos acabem muitas vezes por não perceberem o que estão a fazer, por que o estão a fazer e a não saberem fazer.
Como sempre, pouco se pode fazer mais do que aguardar. O passado recente faz-me crer que já está tudo decidido e que em breve se saberá todo o plano.